quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Episódio 6.3 - O Colombo



Ana decidiu entrar no centro comercial pela porta principal. As portas abriram-se quando se aproximou e ela tentou não se perder na imensidão de alegria e luz que aquele espaço transmitia. Já tinha ouvido falar na imensidão daquele sitio mas nunca pensou que o Colombo fosse tão grande.

O senhor Rui tinha insistido encontrar-se com ela “ao pé da casa das sandes” às duas e meia em ponto que às três tinha que apanhar o intercidades para o Porto no oriente. Ana ainda tinha duas horas até ao encontro.

Começou a andar no centro comercial até encontrar a casa das sandes. Encontrou-a. Fixou o sitio e decidiu aventurar-se mais um pouco. Andou cerca de quinze minutos e como o cansaço se abatesse sob suas pernas decidiu descansar um pouco. Sentou-se no banco a contar quantas pessoas passavam. Trezentos e cinquenta homens, quatrocentas e duas mulheres, cinquenta e três crianças e pelo menos três pessoas cujo sexo não conseguiu identificar depois, o telemóvel tocou. Não conhecia o número mas a SMS[i] era explícita  “Já cá estou. Ass. Rui”.

 Ana levantou-se e dirigiu-se à casa das sandes.
Encontrou o Senhor Rui sentado numa cadeira cor de laranja acompanhado por um rapaz que não devia ser muito mais velho que ela. Ana tinha estranhado a urgência daquele encontro mas deixou que o senhor Rui acabasse de comer a sandes de delícias antes de iniciar a conversa. 

“Ana, este é o meu sobrinho Carlos. Não é mesmo meu sobrinho mas é como se fosse. Conheço-o desde criança e cresceu sempre ao pé de nós.” O rapaz cumprimentou Ana com um ligeiro e envergonhado aceno de mão que Ana retribui com igual vergonha. “Vou ter que ir para o Porto trabalhar”. Ana tremeu. “Aqui não consigo arranjar trabalho. Está muito difícil. E no Porto consegui. Sabes, dizem que é lá que está o dinheiro” “mas o que vais fazer” “vou para um restaurante, vou trabalhar na cozinha de um restaurante”. 

Fez-se um silencio. Os olhos de Ana humedeceram-se. Os de senhor Rui também. Apenas o rapaz parecia imune a tal notícia. “O Carlos vai ficar a tratar de tudo para a venda da casa. Já lhe passei uma procuração e tudo. Marquei este encontro para que se conhecessem, ele já tem o teu número, depois liga-te”. “Mas já vai?” “Sim, no intercidades das três”. Ana agarrou a mão do senhor Rui. O senhor Rui afastou-se. Não gostava de despedidas. Carlos levantou-se, pegou no pequeno saco de viagem que estava a seu lado. “Adeus Ana” disse o senhor Rui. Virou costas e afastou-se. Nunca olhou para trás. Ana ficou pálida, sem reação. 

Esquecido em cima da mesa ficou um pequeno cartão de visita. Da parte da frente dizia:  o nome de um bar que Ana não conhecia., e a morada. Era certamente o restaurante onde o senhor Rui iria trabalhar. “Um dia vou lá vê-lo". Ana foi. Ana arrependeu-se.


[i] N.A. - SMS = mensagem escrita de telemóvel muito comum nos dias que correm.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Episódio 6.1 - Sangue Suor e Lágrimas

Todos os dias à mesma hora senhor Ano saía do trabalho com dois colegas de longa data e juntos saboreavam uma bebida gaseificada que os ajudava a descontrair depois de uma longa jornada de labuta. Naquele dia, porém, inventou uma desculpa e saiu mais cedo. Precisava de ver com os próprios olhos a casa que Ana queria comprar.

Tirou um papel do bolso e confirmou a morada. Foi até ao Chiado a pé pois sabia que ali existia um posto de atendimento da carris onde lhe indicariam a melhor maneira de chegar ao local pretendido.

Sr. Ano estava ansioso. O trânsito infernal. Já eram quase quatro horas e a fuga do tempo comprometia fortemente os seus planos. Decidiu sair na paragem seguinte e fazer o resto do caminho a pé. "É mais rápido", pensou. E não se enganou. Subiu por uma pequena ladeira em direção ao bairro alto, atravessou a rua Caetano Palha, virou à esquerda e chegou à Rua da Paz.

Procurou o número da porta e encontrou a casa. A primeira impressão não podia ser pior. A casa era velha, a pintura não estava em condições e o telhado não servia o seu propósito pois certamente deixaria entrar água. É certo que tinha um pequeno quintal, ideal para aproveitar as tardes solarengas de verão, mas estava tão mal tratado que levaria pelo menos um ano a voltar a arranjar.

Sr. Ano olhou em volta e dirigiu-se ao único café que havia nas redondezas, o Café Cantinho da Paz. Sentou-se. Pediu um panachê e bebeu de uma golada. Pediu outro. Quando a empregada o serviu, perguntou sem grandes rodeios: "Conhece o proprietário daquela casa que está ali ao fundo?" "Conheço sim, o sr. Rui Passos. Bom homem coitado. Perdeu uma mão sabe, num desastre. Agora precisa de vender a casa, precisa do dinheiro. A mulher deixou-o por outro depois do acidente e durante três anos nunca o vimos com mais ninguém, mas no outro dia viram-no a entrar para lá com uma menina, bem mais nova que ele sabe? não tinha mais de 22 anos, e só sairam já quase à noite e depois..." Senhor Ano não quis continuar a ouvir a conversa. Pegou numa nota de cinco contos, pousou em cima da mesa e saiu deixando perplexa a empregada.

"Mas com que tipo de gente é que a minha menina anda metida"- pensava sr. Ano, "Um homem já feito a encontrar-se com raparigas tão novas". Eram quase cinco e meia quando passou novamente em frente à casa e se surpreendeu por a porta estar aberta. Instigado por um cruel sentimento de curiosidade, sr. Ano não se conteve e atravessou o portão da rua e aproximou-se vagorosamente de uma janela das habitação.

Naquele instante ouviu o pulsar de uma respiração suave mas ofegante que vinha de dentro da habitação. Aproximou-se da janela e, com cuidado para não ser visto, espreitou. Junto à janela existia uma pequena mesa de madeira e, em cima dela, um objeto de metal redondo que Sr. Ano não conseguiu identificar.

Entretanto, a suave respiração tinha dado origem a descompassados gemidos. Tinha de ver o que se passava. Reparou que uma luz muito ténue saía de tráz de uma porta e, contornando a casa, percebeu que havia uma janela que dava para a misteriosa divisão. Aproximou-se com a maior cautela. Os gemidos eram agora bem audíveis e Sr. Ano não tinha dúvidas do que estava a acontecer. Aproximou-se da janela, e com extremo cuidado para não fazer barulho, permaneceu imóvel junto à parede. Pareceu-lhe ouvir o nome "Saldanha" pronunciado por uma voz de mulher. Mas não podia ser, o proprietário era Rui. Intrigado, espreitou. A luz era pouca. A vontade de ver muita.

Conseguiu perceber que dois corpos completamente nus se balanceavam numa cadência ritmada em cima de uma estreita cama. Percebeu que o homem tinha duas mãos com as quais tocava ardentemente o corpo da mulher que apenas cedia ao desejo do que parecia ser um desenfreado desfazer de uma paixão proibida. "Não é o sr. Rui"- pensou. Naquele instante, um gemido passou a grito, e os dois corpos separaram-se extenuados. Sr. Ano forçou o olhar. Não conhecia o homem e não conseguia ver a face da mulher. "Vou embora pensou". Abandonou o seu posto de observação e dirigia-se muito devagar para a via pública. Ouviu barulho dentro do quarto e decidiu parar. A porta no interior da habitação abriu. ouviram-se passos. Alguém se preparava para sair. Sr. Ano, completamente imobilizado, susteve a respiração e, sem que nada o fizesse prever, ouviu uma voz assustadoramente familiar "Não se esqueça do meu Modelo 1".

No dia seguinte, Ana pegou no jornal para ver o horoscopo. Na página ao lado, estava uma cara estranhamente familiar. "Faleceu Saldanha Martins, extremoso pai e marido dedicado. O funeral realiza-se amanha, em Mosteirinho, S. Pedro do Sul". Ana soltou uma lágrima, e nesse dia, sem sequer se ter dado conta, adormeceu com a mão em cima da barriga.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Episódio 6 - Um dia na estiva

Como era normal, Sr. Ano levantou-se às 6h30. Vestiu o traje de trabalho. O dia estava frio.
Emigrante em França durante trinta anos, sr. Ano não perdera o costume de sair de casa de manhã com a baguete para o almoço debaixo do braço a tocar gentilmente na antecâmara do mau cheiro.

Se fosse um dia normal, Sr. Ano ter-se-ia despedido de Ana antes de sair de casa. A mágoa provocada pela notícia aterradora do dia anterior impelia-o a não o fazer.

Ao meio dia em ponto, Sr. Ano largou a estiva e regressou a casa. Ana ainda dormia e, se fosse um domingo normal, a mãe tinha ido à missa e voltaria para preparar o almoço. Ao entrar na sala de estar, Sr. Ano reparou numa pasta verde de tamanho A4, com diversos papeis. Intrigado, abriu a pasta e leu cuidadosamente. A primeira folha era  um"Modelo 1 do IMI" e junto estava um fotocópia do bilhete de identidade de Rui Albuquerque Passos da Silva Coelho e de um cartão de contribuinte. Não foi preciso pensar muito para concluir que se tratavam de papeis relativos à casa que Ana queria comprar.

Leu cuidadosamente o Modelo 1 do IMI e descobriu a morada. Radiante com a sua descoberta resolveu ir ainda naquele dia ver o imóvel. O Benfica jogou, e sr. Ano esqueceu-se. Deitou-se e antes de adormecer pensou: "de amanha não passa". 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Episódio 5 - O Modelo Um do IMI

Naquele dia, Ana almoçou em casa. Despediu-se da mãe, vestiu um casaco, abotuou as botas, e colocou um cachecol castanho à volta do pescoço. Pegou na pasta verde e saiu de casa.

Apanhou o 83 para a portela. Podia ter ido de Metro mas não lhe apeteceu descer as escadas, obliterar o  passe, entrar na carruagem, viajar de baixo da terra, sair da carruagem, subir as escadas, voltar a passar o passe e sair da estação. Aquele 83 passava mesmo diante da Repartição de Finanças 10 de Lisboa, na Fontes Pereira de Melo e Ana sabia o que queria. Um acidente nas Amoreiras atrasou a viagem uma hora e meia, mas finalmente chegou.

Ana entrou na repartiçao de finanças, dirigiu-se à máquina e retirou a senha "entrega/liquidação de IMI". A senha dizia H45. Ana sentou-se e esperou. Pegou na pasta verde que lhe foi entregue pelo sr. Rui e abriu. Lá dentro estava toda a documentação necessária para entregar nas finanças. Recordou brevemente a conversa que teve no dia anterior com o Sr. Rui: "O prédio não se encontra registado", disse. . "Já tenho tudo tratado mas não posso ir às  finanças porque comecei agora a trabalhar e o patrão não me deixa sair". Ana oferecera-se de pronto para ser ela a entregar os papeis nas finanças. Afinal também era do seu interesse que tudo estivesse pronto o mais depressa possível. 

Na Repartição o ambiente estava tenso. Muitas pessoas tentavam perceber porque estavam a ser informadas que tinham que pagar multas de trânsito de há cinco anos. Ana também não percebia. "É o país que temos" pensou. A televisão fez "Dlim Dlim" e do guichet do fundo alguém chamou "H45".

Ana levantou-se e dirigiu-se ao balcão 14. Do lado de lá do balcão estava um senhor na casa dos 40 anos, olhos pretos afáveis e cabelho grissalho que quando a viu esboçou um sorriso e a convidou a sentar.

"Bom dia. O meu nome é Saldanha, em que a posso ajudar?" Ana explicou ao que ia e entregou a pasta ao senhor Saldanha. "A casa é sua?" perguntou o afável senhor das finanças. "Não. Sabe sr. Saldanha, eu vou comprá-la, quero ser livre e independente." O Sr. Saldanha ficou verdadeiramente comovido com aquela demonstração de autonomia de alguem tão jovem. Comovido contou: "sabe menina, também eu já fui assim. Eu nasci numa aldeia, perdida na beira, chamada Mosteirinho, perto de São Pedro do Sul. Ainda hoje lá tenho primos. Mas de cedo vim para a Capital, e a vida não foi fácil." O olhar afável tomou tons de sofrimento e ele continuou: "tenha cuidado menina. às vezes as coisas não são tão simples como nos parecem". Visivelmente comovida, Ana explicou que a casa era muito bonita, não era cara e o proprietário era senhor de bem. O sr. Saldanha esboçou um sorriso, aceitou os papeis, confirmou estar tudo em ordem, carimbou, entregou uma cópia a Ana e despediu-se.

Ana, tentando suavisar o sofrimento que Saldanha apresentava, disse-lhe: "Quer ir lá ver a casa.". O Sr. Saldanha assentiu. "Só saio às quatro." "Eu espero". Eram duas e meia e Ana esperou.

Foram os dois à casa. Ana tinha uma chave que o Sr. Rui lhe confiara. Entraram em casa. "É realmente bonita" disse o Sr. Saldanha, com as lágrimas nos olhos. Ana, verdadeiramente emocionada, pegou-lhe na mão, tirou-lhe a aliança que pousou em cima da mesa, e levou-o para o quarto. Fechou a porta.

Vinte minutos depois o Sr. Saldanha saiu do quarto, e enquanto se dirigia para a porta ouviu do interior da pequena divisão: "Não se esqueça do meu Modelo 1". Saldanha pegou na aliança e saiu. 


Com a estimada colaboração de Silvia Carvalho e João Cardoso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Episódio 4 - A noticia

Aquele Sábado amanheceu um belo dia de Outono. O sol espelhado nas folhas das árvores anunciava o raiar de mais um dia pleno de alterações na natureza, daquelas tão propícias a alterações nas pessoas.
Ana, acordou. Levantou-se. E acariciando os últimos traços de uma infância já concluída, foi até à cozinha, preparou uma taça de chocapics com leite e foi para o sofá ver os Simpsons. Os pais de Ana acordaram. Levantaram-se.

O almoço de sábado era sempre em Perna Seca, pequena aldeia do ribatejo vizinha de Perna Molhada (não confundir com Perna Seca de Loulé nem Perna Seca de Silves)  onde vivia a Avó Beatriz.
Os almoços de sábado em casa da Avó Beatriz eram um ritual ininterrupto na vida de Ana. Naquele dia da semana, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, Ana saía de Lisboa com os pais a caminho de Perna Seca onde a avó já tinha preparado um almoço de rei, tipico do ribatejo.

Aquele sábado não tinha nada de especial não fosse ter sido o dia que Ana escolheu para dizer aos pais que decidira sair de casa. Escolheu a curta viagem entre casa e Perna para anunciar a decisão.

"Mãe. Pai. Vou sair de casa." Ninguém disse nada. Ana continuou "Já fui ver uma casinha para mim. Até já conheci o proprietário, o sr. Rui muito simpático. Coitado teve um acidente."

 O pai de Ana, sr. Ano, tirou bruscamente a mão do volante, e levantou-o em sinal autoritário na direção do banco de trás. Atarantado pela notícia, encostou o carro à beira de um café. O ambiente no carro estava tenso. Sr. Ano desligou o rádio sintonizado na StarFm, ex. RCP. Acalmou-se e disse "Que raio de ideia é essa?" Ana explicou, a mãe de Ana começou a chorar. "Mas como é que vais fazer isso? não tens dinheiro? ainda és tão nova...?" perguntava Sr. Ano.

Ana explicou os seus intentos: "Já trabalho e tenho as minhas economias. Vou pedir um empréstimo, pensei que podiam ser meus fiadores...". O pai de Ana amareleceu. Olhou para a frente. Ligou o pisca da esquerda e confirmando que não vinha carro nenhum inverteu a marcha e voltou para casa.

Pela primeira vez, a avó Beatriz passou o sábado sozinha.




quarta-feira, 20 de abril de 2011

Episódio 3 - A casa do Sr. Rui

Com o coração a bater descompassadamente, ansiosa por aquele encontro que tanto aguardava, a pequena Ana lá se aproximou do Sr. Rui.

Chegou por trás e tocou-lhe no ombro. "Sr. Rui?" perguntou, "Menina Ana, como está" respondeu uma voz ligeiramente amargurada mas sorridente e afável.

A Ana estendeu a mão para o cumprimentar e ele devolveu-lhe a sua. A Ana sentiu o frio do plástico de encontro à sua mão macia, mas nem assim deixou de o cumprimentar.

O Sr. Rui era um homem simpático à primeira vista. Devia ter cerca de 40 anos, com cerca de 1,80 m, cabelo preto liso bem penteado, olhos castanhos, tez clara, Inspirava em Ana uma estranha sensação de simpatia e confiança.

"Vamos entao ver a casa?" - e começaram a andar. O Sr. Rui tirou do bolso das calças de ganga um porta chaves com apenas uma chave. Com a mão esquerda fez entrar a chave na fechadura e o coração da pequena Ana quase que parou por instantes. A porta abriu-se vagarosamente.

Entraram os dois. A casa era mesmo o que Ana esperava. Tinha uma pequena entrada que dava acesso a um espaço mais amplo, iluminado por uma por uma pequena janela. Esse espaço dava acesso ao resto da casa. Havia uma porta do lado esquerdo para um pequeno quarto, do lado direito uma casa de banho, e ao fundo da sala, separado apenas por um balcão, era a cozinha.

A Ana estava encantada. Aquela casa pequenina, meia dessaranjada, era mesmo o que procurava. O Sr. Rui falava calmamente sobre as características da casa. "Mandei consertar o telhado agora e a canalização é toda nova. Ainda falta vir o electricista dar uma olhadela ao sistema electrico, mas fora isso, a casa está pronta a habitar".

A Ana só uma coisa fazia confusão. Porque razão alguém haveria de querer vender uma casa tão bonita?

O Sr. Rui foi à estante da cozinha, tirou dois copos, dirigiu-se ao frigorifico e serviu dois copos de Trinaranjus.

Sentaram-se os dois à pequena mesa encostada junto à janela da sala e Ana perguntou "Porque é que está a vender esta casa?"

Os olhos do Sr. Rui humedeceram-se. "Já deve ter reparado que não tenho uma mão. Sofri um acidente. O tratamento foi muito caro. Preciso do dinheiro. E apesar desta casa me trazer muitas recordações boas, vende-la é a única forma de conseguir arranjar algum dinheiro." E lentamente desviou o olhar de Ana e centrou-o na mesa.

A pequena Ana, verdadeiramente comovida, agarrou nas mãos do Sr. Rui. Ele olhou para ela. Os olhos dela estavam agora como os dele. Ana levantou-se e suavemente fez levantar o Sr. Rui. Caminhando à frente, dirigiu-se devagar para o pequeno quarto. Entrou e ele entrou depois dela. Fechou a porta. Nessa tarde, a pequena Ana deixou de ser pequena.



Co-Autoria: Silvia Carvalho