Ana decidiu entrar no centro comercial pela porta principal.
As portas abriram-se quando se aproximou e ela tentou não se perder na
imensidão de alegria e luz que aquele espaço transmitia. Já tinha ouvido falar
na imensidão daquele sitio mas nunca pensou que o Colombo fosse tão grande.
O senhor Rui tinha insistido encontrar-se com ela “ao pé da casa das sandes” às duas e meia em ponto que às três tinha que apanhar o intercidades para o Porto no oriente. Ana ainda tinha duas horas até ao encontro.
Começou a andar no centro comercial até encontrar a casa das sandes.
Encontrou-a. Fixou o sitio e decidiu aventurar-se mais um pouco. Andou cerca de
quinze minutos e como o cansaço se abatesse sob suas pernas decidiu descansar
um pouco. Sentou-se no banco a contar quantas pessoas passavam. Trezentos e
cinquenta homens, quatrocentas e duas mulheres, cinquenta e três crianças e
pelo menos três pessoas cujo sexo não conseguiu identificar depois, o telemóvel
tocou. Não conhecia o número mas a SMS[i]
era explícita “Já cá estou. Ass. Rui”.
Ana levantou-se e dirigiu-se à casa das sandes.
Encontrou o Senhor Rui sentado numa cadeira cor de laranja
acompanhado por um rapaz que não devia ser muito mais velho que ela. Ana tinha
estranhado a urgência daquele encontro mas deixou que o senhor Rui acabasse de
comer a sandes de delícias antes de iniciar a conversa.
“Ana, este é o meu sobrinho Carlos. Não é mesmo meu sobrinho
mas é como se fosse. Conheço-o desde criança e cresceu sempre ao pé de nós.” O
rapaz cumprimentou Ana com um ligeiro e envergonhado aceno de mão que Ana
retribui com igual vergonha. “Vou ter que ir para o Porto trabalhar”. Ana
tremeu. “Aqui não consigo arranjar trabalho. Está muito difícil. E no Porto
consegui. Sabes, dizem que é lá que está o dinheiro” “mas o que vais fazer”
“vou para um restaurante, vou trabalhar na cozinha de um restaurante”.
Fez-se um silencio. Os olhos de Ana humedeceram-se. Os de
senhor Rui também. Apenas o rapaz parecia imune a tal notícia. “O Carlos vai
ficar a tratar de tudo para a venda da casa. Já lhe passei uma procuração e
tudo. Marquei este encontro para que se conhecessem, ele já tem o teu número,
depois liga-te”. “Mas já vai?” “Sim, no intercidades das três”. Ana agarrou a
mão do senhor Rui. O senhor Rui afastou-se. Não gostava de despedidas. Carlos
levantou-se, pegou no pequeno saco de viagem que estava a seu lado. “Adeus Ana”
disse o senhor Rui. Virou costas e afastou-se. Nunca olhou para trás. Ana ficou
pálida, sem reação.
Esquecido em cima da mesa ficou um pequeno cartão de visita.
Da parte da frente dizia: o nome de um bar que Ana não conhecia., e a morada. Era certamente o restaurante onde o senhor Rui iria trabalhar.
“Um dia vou lá vê-lo". Ana foi. Ana arrependeu-se.